terça-feira, 27 de abril de 2010

Alberto Caeiro

Heterônimos

personagem fictícia criada por escritores, cujo objetivo é tentar compreender e propagar diferentes maneiras de ver a realidade exterior/interior, tentando manter distância da visão da realidade ortônima.


Alberto Caeiro (1885-1915)

é o Mestre, inclusive do próprio Pessoa ortônimo. Nasceu em Lisboa e aí morreu, tuberculoso, embora a maior parte da sua vida tenha decorrido numa quinta no Ribatejo, onde foram escritos quase todos os seus poemas, sendo os do último período da sua vida escritos em Lisboa, quando se encontrava já gravemente doente (daí, segundo Pessoa, a “novidade um pouco estranha ao caráter geral da obra”).
Não desempenhava qualquer profissão e era pouco instruído (teria apenas a instrução primária) e, por isso, “escrevendo mal o português”. Era órfão desde muito cedo e vivia de pequenos rendimentos, com uma tia-avó.
Caeiro era, segundo ele próprio, «o único poeta da natureza», procurando viver a exterioridade das sensações e recusando a metafísica, isto é, recusando saber como eram as coisas na realidade, conhecendo-as apenas pelas sensações, pelo que pareciam ser. Era assim caracterizado pelo seu panteísmo, ou seja, adoração pela natureza e sensacionismo. Era mestre de Ricardo Reis e Álvaro de Campos, tendo-lhes ensinado esta “filosofia do não filosofar, a aprendizagem do desaprender”.
São da sua autoria as obras O Guardador de Rebanhos, O Pastor Amoroso e os Poemas Inconjuntos.

Características:


Objetivismo
- apagamento do sujeito
- atitude antilírica
- atenção à "eterna novidade do mundo"
- integração e comunhão com a Natureza
- poeta da natureza
- poeta deambulatório

Sensacionismo
- poeta das sensações tais como são
- poeta do olhar
- predomínio das sensações visuais e das auditivas
- o "Argonauta das sensações verdadeiras"

Antimetafísico
- recusa do pensamento (Pensar é estar doente dos olhos)
- recusa do mistério
- recusa do misticismo

Panteísmo naturalista
- tudo é Deus as coisas são divinas

Paganismo
- desvalorização do tempo enquanto categoria conceptual (Não quero incluir o tempo no
meu esquema)
- Contradição entre a teoria e a prática


Características estilísticas

Verso livre, métrica irregular
Despreocupação a nível fônico
Pobreza lexical (linguagem simples, familiar)
Adjetivação objetiva
Pontuação lógica
Predomínio do presente do indicativo
Frases simples
Predomínio da coordenação
Comparações simples e raras metáforas



Poesias


Entre o que Vejo

Entre o que vejo de um campo e o que vejo de outro campo
Passa um momento uma figura de homem.
Os seus passos vão com "ele" na mesma realidade,
Mas eu reparo para ele e para eles, e são duas cousas:
O "homem" vai andando com as suas idéias, falso e estrangeiro,
E os passos vão com o sistema antigo que faz pernas andar.
Olho-o de longe sem opinião nenhuma.
Que perfeito que é nele o que ele é — o seu corpo,
A sua verdadeira realidade que não tem desejos nem esperanças,
Mas músculos e a maneira certa e impessoal de os usar.


Gozo os Campos

Gozo os campos sem reparar para eles.
Perguntas-me por que os gozo.
Porque os gozo, respondo.
Gozar uma flor é estar ao pé dela inconscientemente
E ter uma noção do seu perfume nas nossas idéias mais apagadas.
Quando reparo, não gozo: vejo.
Fecho os olhos, e o meu corpo, que está entre a erva,
Pertence inteiramente ao exterior de quem fecha os olhos
À dureza fresca da terra cheirosa e irregular;
E alguma cousa dos ruídos indistintos das cousas a existir,
E só uma sombra encarnada de luz me carrega levemente nas órbitas,
E só um resto de vida ouve.

O rio da minha aldeia

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a AméricaE a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para alémDo rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

Fernando Pessoa ortônimo






Olá cambadinha do 3º ano!


Estamos iniciando os posts sobre Fernando Pessoa, grande poeta modernista português, cuja genialidade já conversamos em classe.

Espero que curtam.


Beijos.




Fernando Pessoa


Uma visão breve sobre a vida e a obra do maior poeta da língua portuguesa: - 1888: Nasce Fernando Antônio Nogueira Pessoa, em Lisboa. - 1893: Perde o pai. - 1895: A mãe casa-se com o comandante João Miguel Rosa. Partem para Durban, África do Sul. - 1904: Recebe o Prêmio Queen Memorial Victoria, pelo ensaio apresentado no exame de admissão à Universidade do Cabo da Boa Esperança. - 1905: Regressa sozinho a Lisboa. - 1912: Estréia na Revista Águia. - 1915: Funda, com alguns amigos, a revista Orpheu. - 1918/1921: Publicação dos English Poems. - 1925: Morre a mãe do poeta. - 1934: Publica Mensagem. - 1935: Morre de complicações hepáticas em Lisboa.

Fonte: http://www.releituras.com/fpessoa_linhareta.asp Acesso em 27.05.2010

Se quiser uma visão mais completa e muito interessante, escrita pela jornalista Mirna Queiroz para o site português Vidas Lusófonas, visite http://www.vidaslusofonas.pt/idade_contemporanea_xx.htm . A autora, através do discurso direto, faz com que Fernando Pessoa dialogue com seus heterônimos e em algumas partes desse discurso, são utilizados fragmentos de sua obra.

Outro blog muito legal e o http://fernandopessoa.blogs.sapo.pt/, nele há uma” entrevista com Fernando Pessoa”, vale a pena dar uma olhada.


Para compreender a poesia de Fernando Pessoa Ortônimo:



Linhas temáticas

Intelectualização do sentir.
Obsessão da análise.
Impossibilidade de viver a vida.
Solidão interior, angústia existencial, melancolia, resignação.
Tédio, náusea, desencontro com os outros, desamparo.
Inquietação perante o enigma indecifrável do mundo.
Inquietação metafísica, dor de viver
Fragmentação do eu.
Perda de identidade.
Procura.
Absurdo.
Ansiedade.
Nostalgia do bem perdido, do mundo fantástico da infância.
Profunda lucidez, inteligência intuitiva.
Consciência do absurdo da existência
Estados negativos: egotismo, solidão
Renovador de mitos (Sebastianismos)
Neoplatonismo
Tensão sinceridade/fingimento, consciência/inconsciência
Tentativa de superação através de:
- evocação da infância, idade de ouro
- refúgio no sonho, na música e na noite
- ocultismo (correspondência entre o visível e o invisível)
- criação dos heterônimos ("Sê plural como o Universo")

Estilo poético
Preferência pela métrica curta.
Lirismo lusitano ( reminiscências de cantigas de embalar, toadas do romanceiro, contos de fadas).
Linguagem simples, espontânea, mas sóbria.
Reticências.
Gosto pelo popular (uso frequente da quadra).
Versos leves em que recorre frequentemente à interrogação.
Uso de símbolos
Pontuação emotiva
Comparações, metáforas originais, oxímeros.